segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Do sofrimento e da dor

Quando a dor não vai embora
nem em saudade se torna,
morres com ela,
ou finges que não a ves,
que não a sentes...
Ela se cansa e some.
Ou te consome e te faz demente!
Retoma, então, tua vida deposta
e garimpa alegria como resposta
ao sofrimento.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Justiça

Apenas um pequeno comentário: eu dissera, tendo assistido ao filme sobre a vida de Edith Piaf, que a atriz Marion Cotillard merecia o prêmio de melhor atriz, no evento Oscar de 2008. Coisa óbvia para muitos, tal a perfeição com que encenou o drama que foi aquela vida. Assim é que eu, que nem ligada sou nesta badalação, prestei atenção, torci pela moça e fiquei feliz que lhe tenham feito justiça.
Se você viu o filme há de concordar comigo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Coisas de Menino

Estou no tempo de rasgar papéis. Vocês sabem o que é isso? Se sabem, é bem isso mesmo: a gente guarda postais, cartas, bilhetes até contas de telefone e outras coisitas mil...Vou jogando em uma gaveta, meio a lembretes e versos que me ocorrem no meio da noite ou enquanto almoço; numa lanchonete ou na madrugada. Chega um momento em que o volume grita e me sinto na obrigação de exercitar a escolha.
Foi num desses momentos que encontrei algo de grande significado para mim. Meu filho tinha cinco anos e tínhamos, atrás da casa, um misto de jardim e pomar. Havia grande ameixeira, goiabeira e limoeiro. No pequeno jardim, ao redor do muro, plantei samambaias, rosinhas e lírios; sob a grande árvore, orquídeas desfrutavam da generosa sombra, sobre um jirau. Todo o espaço central era coberto por grama, o que permitia às crianças brincarem com grande liberdade!
Conto sobre este cenário para que possam entender como em plena cidade grande, no fim do século vinte, as crianças ainda podiam desfrutar de brincadeiras ao ar livre até subindo em árvores!
Espero que meus netos, como meus filhos, possam brincar neste novo pequeno jardim e que nele haja clima de paz para sonharem. Transcrevo o achado e rasgo a preciosidade do papel já amarelecido.


Coisas de Menino

Coisa mais linda a imaginação infantil a desenhar florestas; a construir um enorme barco, cheinho de piratas; um mar, com tubarões e tudo, no exíguo quintal; a povoar a vida com realidades virtuais...
Entre varais coloridos, com prejuízo de alguns lírios, surge violento urso...Somente a poderosa metralhadora - "é super- sônica" - afirma entre matreiro e aflito, poderá liqüidá-lo. Apontando para o nada um disforme pedaço de madeira, onomatopatiza com língua ágil o som de sua defesa.
Virando-se num salto, deixa esta arma...E, com as mãos em concha sobre a boca, grita o grito forte do senhor das selvas: ô...ô...ô... Subindo na árvore como Tarzan, dela desce como Batman. À metamorfose basta uma corda ( o grosso cipó africano) e um pano de copa ( a capa!). Caçando é Falcon; nadando na grama, é o " homem- do- fundo- do- mar"...
Com lápis e papel faz lindos desenhos; com massa e argila constrói um mundo fantástico de bichos, máquinas e robôs. " Minhas experiências" diz com autoridade, nariz empinado.
De repente cessa toda a agitação. A brincadeira acabou-se. Escondeu-se a criança. Sumiu! Muito quieto, boa coisa não faz...Qual nada!
- " Estou seguindo as formigas! E tem outro bicho muito perigoso!"
- " Que é? interrogo alvoroçada. Nem precisa responder: o pobre besouro segue em cortejo funeral, arrastado ao formigueiro! E, não contente de cercear-lhes o caminho, repete em tom doutoral:- "vou castigar elas...são más...picam a gente!..." Levanta o pezinho e desfecha-lhes golpe mortal. Tento explicar que não é assim, mas : "Agora, vou procurar tatuzinhos; são mais bonzinhos; não tenho medo, viram bolinhas!"
Não passa um quarto de hora sossegado: espada de papel, máscara de Zorro, ou a bola, nos chutes fortes- "sou Rivelino", "sou a Ponte Preta"...
Olhando com novo olhar, distante de tudo que já vivenciara, me pede:-"mamãe, faz pra mim uma estrela de Xerife? Pego tesoura e um papel qualquer e tento uma estrela. "Assim não! Assim não serve! Tem que ser papel amarelo! E lá vou eu atrás de papel apropriado. Depois, debruçado sobre o Forte Apache, mil homenzinhos e índios submissos, ele é o dono do quartel. Fala grosso e gira o revólver de plástico entre os dedos, uma façanha! Só depois de muita manha e alguma zanga, ei-lo na cama, sonhando suas verdades...
Dia curto para tanta lida!
Todavia, como tudo na vida não passa de ilusão, é mais viva esta fantasia sua, que a vida real sem emoção.