quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Do Caminhar pela Vida

     Na estrada da vida,
     peregrina rumo ao Eterno,
     enveredei-me por vias frias,
     ou de intenso calor,
     no desamparo ou com amor.
     Determinada, levei no bojo,
     o riso e a lágrima,
     espinhos e rosas,
     nas cidades e nas roças.
     Como pessoas, as rosas
     são perfumadas e lindas,
     mas ferem, às vezes.
     Meus joelhos reclamaram
     e minha vista se turvou.
     Meu corpo se cansou,
     claudicou e se curvou.
     Porém, cada pedra pisada
     foi em nuvem transformada
     que não feriu meus pés.

     Feliz é quem completa a jornada
     e encontra a porta de chegada!
    

sábado, 18 de janeiro de 2014

Boa Morte

      Faz já algum tempo que quero falar deste assunto. Minha filha enviara- me com entusiasmo a notícia sobre o valoroso atleta belga, Emiel Pauwels. O senhorzinho das mil medalhas ( ouro, prata, bronze ) - a recebê - las desde sua juventude, tinha agora 95 anos! Ele falecera neste último sete ( 07) de janeiro, tendo optado pela eutanásia. Eu estava cansada e focada em conversas de doenças, de parentes e amigos e não me detive a valorizar  sua perseverança. Ele se dedicara ao atletismo com empenho e conquistara seus muitos premios até tornar-se um dos maiores da Europa, em sua categoria de veteranos. De fato, eu deveria deter-me neste fantástico progresso, tendo ele atravessado idades tão limitantes até desanimadoras.
      Não são muitos os países que aprovam e executam a eutanásia. Temos os Países Baixos, Luxemburgo e Suíça na iminência de aprovação, a Colômbia e, nos Estados Unidos, somente o Estado do Oregon. François Hollande - presidente francês - acaba de anunciar lei que regulamenta o final da vida de pacientes terminais, para encerrarem seus dias " com dignidade". Segundo o juramento de médicos, eles devem fazer todo o possível para recuperar a saúde de doentes; mesmo aqueles portadores de doenças incuráveis. Temos visto verdadeiros milagres em que há recuperação espantosa, sobretudo para os que gostam de viver. Tivemos dois doentes terminais na família e estes agiram corajosa e tranquilamente até o fim, apesar de grande sofrimento. Nenhuma revolta ou desespero, constatamos.
      Pode acontecer, como já ocorre na Bélgica, que ninguém mais se espante nem questione com o emprego da eutanásia, dentro de poucos anos.  Praticada desde a Antiguidade, a eutanásia era empregada pelos celtas e outros povos nórdicos, que queriam apressar a morte de seus pais idosos e enfermos. Há quem afirme que eutanásia é como um suicídio assistido. Contudo, num olhar investigativo, concluimos que o suicídio é praticado pela própria pessoa que o escolhe. A boa - morte uma vez pedida e aceita é assistida por um médico e quem a executa é uma terceira pessoa.
      O que me surpreendeu foi que Pauwels realizou uma festa, no dia anterior ao de sua morte. Convidou alguns amigos e seu filho único. Dizem que estava feliz.
      Talvez eu tenha sido severa demais com ele. Aos noventa e cinco e com câncer de estômago, sabia que não mais faria seus esportes e poderia ter muitas dores. Ainda não tinha sofrido nada disso. Neste último dezembro ganhou medalha de ouro, na Copa do Mundo Brasil 2013 ( veteranos). Só de pensar nas limitações e sofrimento preferia morrer. Não tenho o direito de julgar sua escolha. Meu conceito é que a vida é um dom e só o Criador a pode recolher para si. Porém, com medicamentos poderosos ninguém precisa partir como acontecia no passado.
      Seria eu hipócrita a dizer que aplaudi a escolha do atleta. Ele poderia aceitar o último torneio, às vezes longo e sempre dificílimo, mas experiência ímpar e intransferível. Custava o belga correr só mais esta vez na estrada da vida? Atravessaria o vale sombrio da morte e saberia que do outro lado ainda há muita vida a ser vivida.
      Deus me encha de coragem e paz, quando eu tiver que atravessar a ponte da eternidade; quando o sino tocar e eu tiver que me mudar para o andar de cima. Que ninguém me ofereça eutanásia. Não precisarei de festa nem de carpideiras.

domingo, 5 de janeiro de 2014


Janeiro
 
     Fechou- se definitivamente o portal de 2013; estamos,agora,no início de um novo ano.Obviamente,ao redor tudo parece igual;novo - ano - quase - igual - ao - velho.Só um pequeno “quase” para fazer justiça às variações enlouquecidas de temperatura. Aliás,o calor está atípico! Nada nem ninguém se transforma abruptamente. Mesmo a morte é vagarosa.Por isso,muitos vêm morrendo faz tempo e nem o percebem.
     Foram- se as festas também as pessoas se foram para seu nada, suas férias ou suas faias.
     O que foi bem concluído assim ficou.Os erros também.Talvez se consertem naturalmente,segundo a lei do retorno ou algo semelhante à Teshuvá judaica.Aguardemos.
     Na festa do Réveillon, perambulei entre idades variadas e especulei sobre protestos,projetos de mudança,suspiros até lamentos. Para uns,se a festa de Natal é de família,o foco deveria ser a criança.Portanto,a ceia ficaria para segundo plano ou nem existiria. Todavia,há a geração que passou dos sessenta e não se alimenta de “coisas pesadas”nem noite adentro quase de madrugada.
     Seduziu- me a conversa com “seo” Antônio.Na tranquilidade de seus oitenta e tantos anos,enquanto aguardávamos a ceia,ele contou-me de sua rotina.Cuidava ele mesmo de tudo em sua casa,embora pudesse pagar funcionários domésticos.Habitualmente,janta por volta das dezoito horas;tudo organizado,faz suas preces e logo está a sonhar com o dia seguinte ou coisas da infância,mesmo com alguma namorada.Acorda sem despertador;por vezes,sem o cantar do galo; escuro ainda.Faz o desjejum e segue de carro para o sítio.Ali, ordenha vacas,alimenta galinhas,rega a horta,cumprimenta o pomar...Eu,suspensa na admiração,ele,alegre,sorrindo,em paz.Isso era o seu jeito de levar a vida.Se tinha dado certo até ali,por que mudaria? Seu ano–novo seria como os muitos anos–velhos,deixados nas páginas de sua vida.Ouvindo“seo” Antônio,reforcei a crença de que o trabalho que se ama não pesa quase nada.O corpo se renova a cada dia quando a alma está feliz.
     Confortou-me,ademais,o propósito da solene senhora de ser menos manipuladora e mais verdadeira; menos fantasiosa e mais religiosa, sem usar máscara de beata.E a jovem altiva definira seu ano-novo como a busca da esperança e da fé. Houve quem falasse de perdão e amor sem limites. Outros prometeram ler muito mais – tais como “ O Príncipe da Privataria", de Palmério Dória,( o segundo volume está melhor que o primeiro),a“Fúria de Sharpe”,de Bernard Cornwell ou reler “A minha Fé”,de Hesse,“ Terra dos Homens”,de A. Saint Éxupery; tomar fôlego para investir em “Gênese de um Pensamento”,de Teillard de Chardin e ainda criar coragem para mastigar o denso “O Demônio do Meio- Dia”,de Andrew Solomon. Haja tempo!

     2014 que se alargue para caber tanto desejo acumulado. E que os sonhos se tornem realidade.
     Então, feliz ano – novo – quase - igual, para todos!