sábado, 22 de junho de 2013

Profetas

     Já ouvira desde muito tempo que nenhum profeta é bem aceito em sua casa. Mesmo em sua Nação. E, malgrado comentários maldosos ou jocosos de algum filho ou amigo, teimamos, eu e alguns mais antenados, em profetizar o que vemos no mundo e agora no Brasil. Não profetizamos como profetizaram os iluminados bíblicos. Simplesmente, anotamos, lemos e relemos muitas análises de formadores de opinião, gente de profundo conhecimento e vasta experiência. Pelo menos, desde 2008, na crise dos Estados Unidos e em 2010, na Espanha - sem contar a Grécia  e outros insatisfeitos, porém com diferentes causas - eu dizia que a " Descoberta do Brasil" pelo Primeiro Mundo ( muitos investimentos, muita gente querendo conhecer ou trabalhar aqui ) seria algo passageiro como o brilho de um relâmpago; que o crescimento do Brasil, a ascenção econômica de uma classe mais sofrida, talvez lá na frente, todos sofreríamos uma queda fabulosa e, quanto mais alto estivéssemos, pior seria o tombo.
     Pois que agora, como um renascer de Fênix, a América do Norte se levanta, o dólar se fortalece e nossa dívida externa sobe, como o mercúrio em termômetro de paciente, com mais de quarenta graus de febre. Sem falar em nossa dívida interna. Então, os que financiaram suas casas e carros e outros bens a juros muito baixos, verão ruir tudo como se seus sonhos fossem levados por tsunamis infames. Não desejo isso; seria eu muito maldosa. Contudo, é uma hipótese.

     Ao ver as manifestações dos estadounidenses e espanhóis por suas perdas, cantei uma pedra indesejável, em meu bingo restrito:- também aqui veríamos a insatisfação. Não imaginei que logo se esquentasse tal gritaria e nós brasileiros, tão desencantados da vida pública, pudéssemos sair às ruas clamando por bens que nos foram prometidos e, gastando nosso suado dinheiro, nunca foram executados.

     Concordo plenamente que não se permitam bandeiras de nenhum partido, já que todos se fizeram de surdos às reclamações de corrupção e má destinação do dinheiro público. Isso não significa que queremos um governo ditatorial, sem partidos. Queremos uma bem feita Reforma Política e Reforma Tributária. O governo no Brasil tem seguido como uma ditadura disfarçada. Fingem que condenam, mas ninguém vai preso, fingem que criam boas universidades, fingem que cuidam da saúde. E seguem fazendo  o que querem sem darem atenção a ninguém. E vemos que não há partidos de oposição. Nem um! Mesmo um que parecia oposição, se viu envolvido em esquema de corrupção. Faz muitos anos que eu voto " nulo"; se todos déssemos este recado, de que votamos "nulo" porque nenhum dos candidatos nos é suficiente para representar, quem sabe assim, teríamos novos candidatos com passado e presente limpos. Mas o que ouço, muitas vezes, é que as pessoas pensam que são obrigadas a votar em alguém, mesmo se esta pessoa não for adequada. Pode ser que, neste tempo de passeatas, abram-se muitos olhos e ouvidos e teremos uma eleição mais limpa, com representantes mais decentes, honestos.

     Também brinquei, por muitos anos que, em dado momento de nossa História, fariam a " Recuperação da Informação" como acontece no livro "1984" do inglês  Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell: tomam seus dados pessoais e os reescrevem de modo diferente, para que todos pareçam pensar de modo igual ao do governante oligárquico. Tenho o filme e assisti a ele por mais de duas vezes, já o tendo visto no cinema. O autor me cativou desde o primeiro momento. Ele, sim, foi um visionário. Eu apenas brinco e tento ver em nossos dias o que ele já via no pós- guerra. Por isso, quando em Ubatuba a passeio, no dia doze deste junho, vibrei com a manchete sobre Snowden - é isso mesmo? - o garoto - prodígio que deixou todos os grandes de queixos caídos ao denunciar a invasão de privacidade que o governo dos E. U. e, agora também da Inglaterra, fazem de maneira ampla e arrogante. O que pude ver é que muitos abrem mão de sua liberdade pelo temor exagerado de terrorismo. Com isso, acham ótimo que se " vejam " tudo o que  fazem ou pensam. Como nesses programas populares, o " Big Brother ", quando muitos gastam tempo e dinheiro só para espiar a intimidade alheia. Uma pobreza!

     Já vou "profetizando" que, em futuro não muito distante, estaremos todos devidamente catalogados, aceitando pacificamente que nos monitorem até os pensamentos. E o livre- pensar será só pensar - como dizia Millôr Fernandes.
Pobre daquele cujo nome for confundido com o de um " suspeito de terrorismo". Só ser suspeito já é correr risco de morte.

     Ainda bem que minhas profecias são apenas o óbvio; não são profecias; talvez sejam pesadelos literários que memorizo ou observação de quem preserva a paz e as flores.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Boas Escolhas

     A cada dia e hora, devemos fazer nossas escolhas. Há opções que nem são escolhas do momento, mas que, em algum dia, escolhemos seguir. E as tarefas são apenas etapas de um caminho, de uma profissão, que nos absorve. Se gostamos desta escolha, ótimo.

     Eu caminhava como de costume, ao redor do Lago do Círculo Militar de Campinas, quando percebi uma movimentação diferente: aquelas crianças e jovens, vestidos com seus belos uniformes, em tons de azul e cinza e com um lenço colorido no pescoço, treinavam a prática do remo. Havia alguns botes ou canoas e os menores remavam, sob os cuidados dos maiores. Para limitar o acesso ao espaço mais fundo do lago, os "Lobinhos" e os "Escoteiros" amarraram uma corda no sentido Leste - Oeste. Observei a disciplina, o falar educado, nada de gritaria nem de euforia exagerada que chamasse atenção para todo o grupo que era de muitos.
     Segui em frente e percebi que outros se ocupavam em diferentes tarefas. Algumas lindas jovens recolhiam algum tipo de vegetação mais adiante. Aproximei-me e conversamos. As moças tinham, uma quinze anos, outra dezenove. E fazia já cinco e sete anos, respectivamente, que praticavam o escotismo. Achei surpreendente! Apesar de eu frequentar o clube desde muitos anos, nunca os tinha observado tão ativos e envolvidos com a escolha que tinham feito. Escolha exigente apesar de terem que cumprir outras escolhas, naturalmente feitas pelos pais, como os estudos que levam a sério.

     Isso foi numa sexta-feira de semana com feriado na quinta. E os garotos que encontrei estavam muito felizes - um de treze anos, outro de onze - que não só montaram as barracas  mas já tinham dormido ali:- " estamos acampando aqui, nos quatro dias e vamos ficar até domingo". Era bom ver que estavam orgulhosos de terem escolhido viver esta aventura, em segurança. Ali tinham uma boa mata, o lago para remar e pescar e o espaço para o campismo. Recolhiam uns gravetos que suponho para algum fogo noturno; não voltei lá para conferir. Contudo, contagiei meu neto com tamanho entusiasmo com que me preenchi.

     Ainda hoje, assisti a um documentário sobre o Sistema Nacional de Orquestras Infantis e Juvenis, da Venezuela. Mostrava a vida de Gustavo Dudamel, exemplo de jovem que abraçou a música com paixão e levou a realização deste sonho a milhares de crianças, mundo afora. Iniciado pelo músico venezuelano, José Antonio Abreu, este " Sistema" visava retirar as crianças da rua e do contato com as drogas. Deu certo. As crianças, muito pequenas, falam com entusiasmo dos instrumentos que elegeram e de como a música as embala e as eleva; umas dizem que sentem paz, outras que parecem voar! Belo exemplo para nós - se já não o fazemos, está na hora . Pode ser que encontremos muitos talentos que se perderiam nas drogas, pelas ruas do Brasil.

     Ademais, arte e educação se completam. Coloquemos música na vida de nossas crianças; certamente serão adultos mais sensíveis e menos agressivos. E que experimentem o escotismo também. Pois uma coisa não exclui a outra.
     É preciso dar a elas um leque de opções que equilibrem as matérias mais valorizadas nas escolas e que de fato determinam o proficionalismo futuro: as ciências exatas, as humanas e os idiomas. Estas são obrigatórias e tornam, muitas vezes, o ensino árido e cansativo.

     Tenho duas meninas que iniciaram seus estudos na música, seguiram por outros caminhos muito eficientes; poderiam voltar ao antigo amor, ao menos para acalmar seus dias ou como instrumento de inspiração para seus filhotes. Vai que surge dali um " Dudamel"!