sábado, 5 de março de 2016

Na aridez dos dias maus

A palmeira derramou quatro
desbotados braços de galhos,
esturricados e lamentosos,
esfolados pelo ardor amarelo
de um sol desapiedado.
Soltava a pobre árvore
gemidos lânguidos e trêmulos
nas manhãs, nas tardes e nas noites
de uma primavera ingrata e avara,
nada de brisa, nada de orvalho
nem chuvisco a chorar a seca...
Consolada pelo sanhaço,
amada pelo sabiá - barranco,
arrancou solidários suspiros
do manacá, despido de cor e vaidade,
já na saudade de suas flores,
que jaziam em tapete, sobre o amarelo
do gramado que um dia fora verde.
Choram inda na manhã de domingo,
o pardal e a rola que rola na pouca
poça d'água que noutro dia sobrara
da rega e logo se secará...
Sob a hera que se tornara seu teto,
numa sombra curta e rala,
perto da murta e do jasmim,
ainda o sanhaço lamenta
com todo o jardim!
Chora a chuva que não chega.
Vai-se embora a primavera
e o verão secará o rio e a lagoa.
Isso não é promessa boa!