quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O Show de Cada Um

     Estive a me encantar com a performance musical do falecido - para alguns até saudoso -Jimi Hendrix com sua guitarra elétrica. Nada entendo de música e acontecia, neste show - documentário, o evento de rock de Woodstock. O jovem Hendrix fazia "misérias" com o instrumento capturando minha atenção e foi muito lindo quando executou o Hino Nacional dos Estados Unidos, num arranjo original. Se alguém me contestar afirmando que isso foi no Festival de Monterrey, aceito. O importante é que ele começou sua carreira por baixo até com vaias e chegou ao topo. Infelizmente, como quase sempre acontece com esses astros, as drogas, álcool e exaustão acabam por destruir suas vidas, ainda muito jovens e com grande fortuna.
     Passeando por Córdoba, na Espanha, detive meu olhar sobre uma jovem que tocava violino, na rua, à entrada da famosa ponte romana. Estava frio e ela, bem agasalhada, preferiu deixar no sol sua caixa de doações. A música era suave e de acordes clássicos, lembrando Bach ou Chopin. A maioria das pessoas parecia nem ouví-la, preocupadas em fotografar monumentos ou a paisagem local, com belos jardins. Percorremos lugares anotados como prioritários para turistas e, depois de algumas horas, retornávamos ao hotel. A jovem escolhera outro ponto, na mesma rua - palco, agora à sombra. Fiquei a pensar no que motiva esta garota a portar seu violino e a executá-lo de modo tão correto e sensível, sem receber remuneração alguma ou quase nenhuma. Afinal, gastou tempo e dinheiro estudando, pagou para adquirir seu violino e fica à mercê da sorte ou da caridade de quem passa.
     Lembro-me de que faz pouco tempo, atravessando a Praça da Sé, em S. Paulo, vi algo ingênuo e comovente: um homem de meia- idade, usando chapéu de feltro, camisa xadrez e calça jeans surrada executava músicas cujas letras eram improvisadas ou adaptadas ao gosto do ouvinte. Ouvinte era todo aquele que, tomado pela curiosidade, detinha-se naquele outro palco - de - rua. Uma tabuleta anunciava: " Caveirinha Show de Rua". O homem até que manejava bem seu violão. Mas a "orquestra" completa é quem deixava todos de olhos arregalados. Aos dedos da mão direita, Caveirinha agregou um arame que se ligava a um bastão e este executava um acompanhamento como se fosse um teclado musical. O pé direito marcava o tempo em uma espécie de chocalho. O pé esquerdo movimentava um palhaço que tocava tambor. Realmente, era espantosa sua habilidade. Sua alegria contagiava e ele oferecia músicas para todos os times de futebol, conforme a plateia exigia. Como a mocinha de Córdoba, também ele tinha lá sua caixa para receber moedas. Embora não fosse em euros e muito menos como a fortuna arrecadada por Jimi Hendrix, penso que Caveirinha volta pra casa muito mais satisfeito e, melhor que tudo, "ainda volta" com seus cinquenta anos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Manchete do Dia

     Feriado de quinze de novembro, acordo mais tarde e a manchete do dia é: " Ministro José A. Toffoli diz, em outras palavras, que os gatunos do Mensalão estão sendo julgados como na Inquisisão. Que não era para tanto, pois o intuito dos crimes era " somente" ( o grifo é meu ) o " vil metal"- agora o grifo é dele. Vil metal ele quer dizer os milhões de reais dos cofres públicos - o meu e o seu dinheiro - que eles roubaram e distribuiram com corruptos iguais a eles. Ora, se o " vil metal" comprou fazendas, bois, palácios, viagens, isso para o dígno ministro não é nada. Se ao menos esses corruptos devolvessem o fruto do roubo seja em espécie ou bens adquiridos, ainda podéríamos dar-lhes pequenas penas de trabalho social. Como vimos acontecer com Paulo Malluf ou com Nicolau dos Santos Neto - o juíz Lalau - no governo de Fernando Henrique Cardoso - só para lembrar alguns dos muitos - esses foram presos, ficaram ali umas horas ou uns poucos dias e soltos estão até hoje gosando da imensa fortuna adquirida. Se a quadrilha do mensalão devolvesse o dinheiro - do que duvido - quem sabe a pena de prisão fosse diminuida. O Sr. Toffoli diz que pena de prisão " é medieval". Desculpe-me este ministro, mas sua ingenuidade ou sensibilidade com essas " crianças" que roubaram doces na cozinha, parece-me que vem atrelada ao fato de ter trabalhado anteriormente com José Dirceu, na Casa Civil. Deduzimos disso que ele tem por obrigação defender o antigo patrão, quem sabe alguém que o tenha indicado ao cargo que hoje ocupa.
     Ademais, fiquemos atentos: determinar o quanto da pena é uma coisa; cumprir tal pena é outra coisa. E duvido muito que os tais vão ficar na prisão por dez, cinco ou tres anos. Veremos se o ilustre Joaquim Barbosa e os demais que o seguem os farão cumprir o tempo "medieval" na prisão só por causa do "vil metal".

domingo, 11 de novembro de 2012

O Encontro

Falar de nosso encontro sem nada nem ninguém esquecer não posso. O tempo, muito além da memória treinada, se encarrega de apagar alguns traços da fisionomia e traça alguns sulcos, modela nosso rosto, conforme nosso caminho percorrido. Podemos vislumbrar vestígios do frescor juvenil, no brilho dos olhos, nos sorrisos nada tímidos dessas que retornamos, após cinquenta anos. Éramos adolescentes sonhadoras, cheias de planos e grande expectativa sobre o futuro.

Voltamos no tempo. Enquanto no tempo, este se incumbiu de pratear nossos cabelos, cuidadosamente apresentados alguns sob as nuances as mais variadas, do preto e cinza, ao louro - claro, bege ao multicolorido. Entrecortando as gargalhadas, as surpresas, os abraços surgia a inevitável conversa ao pé - do - ouvido, o desabafo, um suspiro, o compartilhar das rosas e dos espinhos que todos encontramos ao longo do caminho. Afinal, é muito bom constatarmos que a amizade existe entre nós. Plantada a semente há tantos anos, germinou quase imperceptivelmente e se fortaleceu na distância e na saudade. Nosso encontro foi lindo e fico matutando quando nos veremos novamente. Longe de Itajubá, em outras cidades mesmo em outros Estados, talvez no Exterior, temos que curtir uma saudade dolorida.

Matutando

Faz falta o gosto de Minas:
Fundão de mato, cheiro de bicho...
Faz falta montanhas azuladas
E casinhas entre galhadas,
Com jardins em volta.
Fumaça nas chaminés de chalés
Quase escondidos por araucárias centenárias...
Faz falta um riacho com canoas,
Pescadores sonolentos e vaquinhas mochas,
Pastando em pasto ralo, amarelecido,
Que a chuva é pouca e mineiro descuidado...
Mas o gado, persistente e forte como o caboclo.
Faz falta o silêncio, o passaredo de qualidade
E um bom amigo que ficou na saudade!
Falta todo o tempo do mundo,
Pra pensar fundo na vida e esquecer a cidade.
Faz falta tudo isso. Muita falta!
Falta Minas e falta você!

A todas as amigas - normalandas de 1962 - o meu muito obrigada por terem comparecido ao encontro, sobretudo àquelas que não mediram esforços para que ele acontecesse.