quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Proclamação do Natal

     Grite, nos quatro cantos da Terra:
     - Venham todos, venham logo!
     Venham de qualquer modo.
     Alegria grandiosa ou modesta.
     Venham celebrar a grande festa!
     O nascimento do Menino - Deus,
     A quem muitos deram adeus,
     Celebrando a si mesmos!
     Neste mundo, sempre aparente,
     Tente ser diferente.
     Comece por dentro, na alma.
     E belo presépio invente.
     À porta do coração,
     Bolas coloridas de amizade,
     A guirlanda do perdão.
     Fartura de mimos e abraços,
     Pacotes de beijos com laços
     E quitutes de carinhos.
     Num cantinho aconchegante,
     Elegante, o amor de dourado
     E o sorriso de vermelho.
     Pois que o essencial
     É a voz forte, fraternal
     A cantar que Jesus nasceu
     E de paz nossa vida encheu!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Blue Jasmine

     Wood Allen, em sua costumeira genialidade, surpreende - nos mais uma vez com esta comédia dramática - Blue Jasmine - onde o humor surge sutilmente, quase engolido pelo drama. Lançado neste novembro, o genial diretor acertou com Cate Blanchett que vive Jasmine, envolvida no sufocante "clima - blue" e com Alec Baldwin que vive seu esposo. Este enriquecera-se ilicitamente e acumulara enorme fortuna, lesando a muitos. Nada além disso direi sobre o enredo. Seria maldade. Bom é seguirmos os caminhos escolhidos por Allen e entrarmos em sua trama genial.
     Cate Blanchett está formidável em todas as tomadas. O filme é um retrato fiel de muitas situações que conhecemos, neste hoje que pretende dinheiro fácil e o materialismo - individual e social - reina solto. Alec Baldwin é como um fulano qualquer, cujo nome tenho de memória. Pode ser um pequeno empresário, um político canastrão e mandrião, um ator famoso...
     Na vida real, à medida que o dinheiro entra aos montes - nesse caso, dinheiro sujo - seu ego se inflama e o sucesso lhe sobe à cabeça. Dentre os bandidos, surge o chefe que arrebata a maior porção. Contudo, seus tentáculos se expandem para as diferentes esferas, num espaço de hierarquias muitas.
    Conheço parceiras de cama e de vida que nunca delataram seus companheiros, por corrupção ou por comportamento inadequado. Umas continuaram com eles pelo status e pelo dinheiro; outras, esperaram passar o temporal, divorciaram- se amigavelmente, não sem levar polpuda quantia em suas contas bancárias. Vale lembrar aquelas cujos valores não as satifizeram, sejam estas as esposas traídas ou as amantes descartadas. Lembro-me da esposa do ex- Ministro B. Cabral que o perdoou e aceitou-o de volta ao lar, após ter um romance com a também ex - Ministra Zélia Cardoso. Segue-se Nicéia Pitta, ex- esposa de Celso Pitta que o denunciou argumentando o pouco dinheiro que recebia de pensão ou ter sido lesada na partilha de bens. Na certa, adultério ou abandono do marido. A história levou Pitta ao caso dos precatórios e à perda do mandato. Também de fresca memória, a ex- esposa de Manuel Moreira - vereador, na "era Quércia"- que abriu as portas de sua mansão, mostrando todos os detalhes, em mármore e cristais de qualidade superior, afirmando que desde a casa e todo o resto fora comprado com dinheiro sujo: propinas de fornecedores. Narrou como o marido entrava com maletas repletas de dólares. Interessante é observar como estas angélicas e ingênuas esposas não questionam seus pares nem trabalham suas cabecinhas sobre a origem destas enormes quantias. Os maridões, espalham as braçadas de dinheiro sujo sobre as mesas ou tapetes e tudo parece normal até acontecer a traição. Vivem elas este padrão milionário como se fosse coisa normal. Julgam que ninguém repara! Outras piram diante da fortuna que não conseguem gastar nem pode aparecer. Tive uma ex- amiga que só queria cozinheira francesa; uma pobre criatura, filha de operário que nada sabia das letras nem das ciências. Mas era " chic" ter uma funcionária francesa; ou várias. Recentemente, tivemos Mônica Veloso e seu "caso" com o senador Renan Calheiros; recebia ela, seus valores em espécie, por meio de um funcionário de empreiteira. Um horror a falta de vergonha de uma e de outro. Os exemplos são múltiplos. Uns, nomeiam um filho para buscar no Exterior parte de seu dinheiro; já no aeroporto fazem o câmbio. Outros, puseram a filha a fingir que estudava nos E.U.A. com a tarefa de só voltar depois que comprasse tres apartamentos e os revendesse, mesmo com aparente prejuízo. Todavia o dinheiro era lavado, como se o parco salário que recebia pudesse comprar tudo aquilo! Há muitas maneiras de se criar empresas - de - fachada e ir limpando o dinheiro. Neste tempo de aparente ampla e mais eficaz justiça, esses tais ficam meio assustados...
Resta lembrar a ex- esposa de Fernando Collor que em programa " Fantástico" ameaçou contar muito mais e só nos disse que dezoito mil reais por mes é muito pouco mediante a enorme fortuna do ex. marido. Como ela silenciou, deve ter conseguido muito mais. Esperta ela!
     Paro nesses casos bem conhecidos e reservo outros para conversa - ao- pé- do- ouvido.
     Entretanto, não direi o que aconteceu com a linda " blue " Jasmine e a seu generoso esposo, porém, adúltero e corrupto. Vá ver o filme que ilustra tais casos e diverte genialmente.
    

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Centenário da Unifei - Itajubá

     Foi emocionante, muito mais que os anteriores, o encontro da turma de engenharia, de 1968. São engenheiros eletricistas e mecânicos, que trabalharam nas mais importantes empresas brasileiras. A alegria que fazia o encontro mais feliz é que neste novembro a Unifei celebra seu centenário de fundação.
     Fundada em 1913, por Teodomiro Carneiro Santiago, teve em  seu início grandes dificuldades. Contudo, Teodomiro C. Santiago era um visionário e empreendedor. Seu ideal era criar uma escola para a formação de engenheiros mecânicos e eletricistas, em um modelo avançado em que se unia a teoria do ensino à prática dos conhecimentos. Este argumento lhe chegou a partir do pensamento de Augusto Comte: " É mister relacionar a sabedoria teórica com ...a prática". Também, do lema extraido da frase "Res non verba" ( fatos, não palavras) do general francês Lázaro Hoche, Teodomiro Santiago compôs sua frase memorável:" Revelemo-nos mais por atos que por palavras, dignos de possuir este grande país".
     Em 1912, viajou a Europa e Estados Unidos para estudar os novos métodos de ensino tecnico, adquirir equipamentos para os laboratórios e contratar professores para a futura instituição de ensino superior. Os primeiros professores foram Dr. Armand Bertholet, Dr. ArthurTolbecq e Victor Van- Helleputt. Seguiram-se a estes os Drs. Fritz Hoffmann e Arthur Spirg. Os primeiros holandeses e suíços e, posteriormente, o francês Dr. Pierre François Objois.
     Em 23 de novembro de 1913, o IEMI - Instituto Eletro- Mecânico de Itajubá - foi criado tendo as presenças ilustres do então Presidente da República Hermes da Fonseca, de Wenceslau Pereira Gomes, vice- presidente do Brasil, autoridades locais, professores e alunos.
     A primeira turma de apenas dezesseis ( 16) alunos formou-se em 1917.
     A Unifei que começara como IEMI prosseguiu como IEI - Instituto Eletrotecnico de Itajubá, EFEI - Escola Federal de Engenharia de Itajubá e finalmente, UNIFEI Universidade Federal de Itajubá. Como tal, vem-se expandindo admiravelmente em suas instalações, cursos e número de alunos.
     São muitos os nomes de ex- alunos que engrandeceram esta instituição de ensino, exercendo altos cargos em grandes empresas; infelizmente, porém, encontramos alguns que se deixaram levar pelo poder e pela sedução de enriquecimento fácil e ilícito. Alguns desses passaram pelo vexame de chorar em rede nacional e desculpar-se por perjúrio e envolver- se em corrupção; outro encarou uma um confronto em CPI, mais alguns que se tornaram executivos de empresas estatais, foram questionados por roubarem dinheiro público. Perderam o emprego na empresa lesada mas foram relocados em outra estatal. Um triste modelo que se repete num país onde muitos já perderam a vergonha. Poucos  estão até hoje lavando o dinheiro, através da compra de imóveis, em condomínios de alto padrão ou, de tempos em tempos, buscam parte da fortuna depositada em paraísos fiscais.  Há quem mudou-se para o Nordeste de modo a não ser questionado, aqui em Campinas onde muitos ex- colegas e ex- amigos ficariam espantados com tamanha fortuna adquirida como passe de mágica. Lá, bem longe, talvez sejam reconhecidos apenas como herdeiros do Rei Midas! Estejam esses certos de que todo mundo sabe de onde vem seu dinheiro sujo.
     Dentre os ilustres lembramos o engenheiro Aureliano Chaves de Mendonça que foi vice- presidente do Brasil, Joel Rennó - ex- presidente da Petrobrás; os ilustres professores José Rodrigues Seabra, Richard Bran, Antonio Rodrigues de Oliveira, Pedro Mendes e muitos outros.
     Teodomiro C. Santiago faleceu em 1936, no Rio de Janeiro.
     É um consolo para os justos e honestos contemplarem a vida de pessoas como Teodomiro C. Santiago. Com ideais elevados que, como nós outros, trabalhou para o bem de muitos, exerceu sua capacidade intelectual e não apenas cuidou de roubar o dinheiro público, como alguns colegas dessa formidável turma de 1968.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Do Silêncio e da Meditação

     Faz muitos anos que pratico a meditação, apesar de este hábito saudável ter sido por mim negligenciado. Eu me acostumara ao silêncio planejado, pois a oração - diálogo com Deus - é minha meta maior, senão a única. Não era fácil proporcionar - me a quietude do ambiente externo; muito mais difícil silenciar- me os pensamentos. Tinha o hábito de sentar-me confortavelmente em uma poltrona ou no chão, sobre um pequeno tapete. Colocava melodia adequada - quase sempre música clássica, de andamento suave - ou eu mesma cantarolava uns mantras ocidentalizados. Seguia a técnica das respirações conscientes, profundas e pausadas e a consciência de meu corpo, no espaço. Na respiração me concentrava e meus sentidos se acalmavam. A imaginação sempre teve papel importante em minha meditação. No entanto, é de suma importância gerenciar esta " louca da casa". Aprendera que a imaginação é a força da força de vontade. O Mestre Jesus Cristo já dissera e quase me esquecera de que nossos desejos devem ser visualizados e, nesta constatação, já os podemos agradecer porque os veremos concretizados. Eu gastava algumas horas neste silêncio e mergulhava no meu "eu" mais profundo. Resgatava o melhor de mim mesma, deletava mágoas e frustrações e pairava na paz, longe da insensatez do mundo. Contudo, esse método de usar muito a imaginação pode ser como uma faca de dois gumes, pois nem sempre o que sonhamos é bom para nós. Eu derrubava com muito custo, todos os rumores de fora e maior trabalho era fechar as portas do corpo e domar a vozearia da mente. Só este era meu caminho para o silêncio, onde encontrava a paz que eu buscava. Era meu estado de plenitude, como feto no útero. Voltava, vagarosamente, para o mundo das tarefas empíricas, quase sempre estressantes. Depois, descobri outras maneiras de encontrar o silêncio e atingir o equilíbrio de corpo - mente - espírito sem aquele ritual disciplinado, meio passivo.
     Agora, uso mais a meditação ativa, caminhando junto à natureza, margeando um riacho, embalada pelo rumorejar da água entre as pedras e silenciando a mente na sinfonia de pios e chilreios ou entre lagartas insolentes, no meu pequeno jardim.
     Há quem esvazie a mente pedalando ou nadando; correndo ou limpando a casa; bordando até cozinhando. A meditação ativa, escolhida e prazerosa também nos leva ao silêncio; o corpo pode estar cansado, mas a mente e o espírito estarão em paz.
     Enfim, nada que os orientais, os índios ou qualquer cultura primitiva já não praticassem.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Falar de Saudade

     Tenho alguns muito queridos que vivem longe, do outro lado do mar.
Sei bem onde estão, falo com eles e os vejo pelo Skype, ótima ferramenta para enfraquecer a saudade. Só que as risadas e algumas lágrimas necessitam de abraços e beijos reais. E dizer:-" estou morrendo de saudade" é muito pouco. Soa apenas como figura de linguagem. E minha filhota ficou a dizer das diferenças entre solidão e saudade. E, observando a letra de "Onde anda você" - Vinícius de Moraes e Toquinho - parece que saudade só acontece quando não se vê nem se sabe onde está a pessoa amada. Não. Não é assim. Pois sei onde andam minhas crianças, olho nos olhos deles e às vezes não da para fingir felicidade, porque a saudade começa a querer se mostrar e eu tento disfarçar olhando para outro lado. Mas esta saudade fica bem fraquinha pois não há rupturas nem muros com musgos de mágoas nem pendências de perdão.
     Saudade não tem a ver com solidão. Conheço solitários que não sentem saudade de nada nem de ninguém. E gastei parte do sono desvendando o significado desta palavra complexa. Confesso que não consegui, porque saudade diz respeito a sentimentos e cada qual sente de modo pessoal.
      Eis um ensaio de definir a saudade:

Saudadear
Saudade, nem amarga nem doce.
Depende da idade de quem a sente.
Saudade de ciança é sorvete.
Jovem, saudade até mente.
Saudade,
Seriam olhos sorrindo e coração chorando?
Ou angústia n'alma e lágrimas retidas
Em comportadas retinas?
Saudade é fechar-se no silêncio,
Encolhido feito feto...
Saudade é dor no peito.
É fingir, com despeito,
Que o subtraído amor
Ou o momento sublime, jamais fenecem!
Juntos, corpo e espírito padecem!
Saudadear, ou curtir uma saudade
É morrer um pouco para acordar mais vivo!

sábado, 13 de julho de 2013

Pantanal II

     Falar de Pantanal talvez seja um tipo de refrão por demais cantado: " é chover no molhado". Hoje mesmo, vi parte de um documentário com aquela riqueza toda, da qual vi apenas uma pequena parte. Por isso, meu texto é um pequeno registro, num enfoque humilde - mesmo porque seria difícil postar muita coisa, dada a biodiversidade daquele paraíso.

     Desta vez, fizemos semelhantes passeios de barco pelo rio Miranda à procura de pássaros que habitam nas árvores de suas margens. Encontramos uma rica variedade da qual destaco os seguintes: cavalaria, joão pinto, caracará, arara - vermelha, arara - azul, arara - canindé, periquitos, mutum - de- penacho, garça-real, aracuã- do -pantanal e outros muitos. Caminhar logo de madrugada foi um trabalho para os fiéis fotógrafos dessas aves raras e encantadoras. Fui de acompanhante, mas a vida naquele lugar começa muito cedo e nos obriga a seguir aquele ritmo. Desliguei - me totalmente do mundo dito civilizado: nada de telefone, televisão nem Internet. Li um bocado, escrevi pouco, orei bastante e meditei o suficiente. Era formidável ter o silêncio interrompido exclusivamente pelo farfalhar de pios, gorgeios, chilreios ou trinados, todos desalinhados mas orquestrados por mãos divinas. O colorido de mil tons de verde, com manchas vermelhas, outras amarelas ou azuis eram o primeiro plano daquela paisagem dourada com fundo azul celeste. Uma delícia! Escrevi um poema desta força da natureza sobre nossa saúde. É formidável o sol para nos tirar da cama, da casa, do casulo; sair da melancolia - nossa herança portuguesa - sair de nós mesmos. Ir ao encontro da luz natural e daquela que emana das pessoas translúcidas. Repletos de energia, de alegria por nada e por tudo, cantamos sem dizer palavra e ouvimos a melodia silenciosa do vento na ramaria. Muito bom.

     Emoldurando tudo, uns papos - cabeça até muita conversa - jogada- fora com gente muito jovem, tal o irlandês e o alemão, como maduros tais os casais franceses e outros brasileiros. Isso era mais no refeitório, porque as moças estrangeiras ficavam só curtindo o "verão" de junho, de biquinis, na piscina. Para meu gosto, eu usava agasalho leve, nunca, porém, roupa de banho. Porque eu sentia frio mas elas precisavam ganhar uma corzinha naqueles poucos dias. De fato, eram demasiadamente brancas. Este era um grupo que chegou junto, apenas turistas de férias. Interessante o garoto alemão - não direi seu nome - de dezoito anos a dizer que faz estágio na empresa de Eike Batista, onde seu pai trabalha na construção de uma usina termoelétrica. Com ar de criança travessa, que está a fazer algo proibido, sentia-se importante porque desconhecia totalmente do trabalho de uma usina deste tipo. A família inteira veio da Alemanha; moram no Rio de Janeiro há seis meses. Disse-me que ele e o pai tiveram aulas de português, língua que julga muito difícil. Logo entendi porque a mãe nada falava mas me sorria admirada de o filho estar a tagarelar nesta língua que ninguém fala! E eu o escutava e respondia lentamente; às vezes também perguntava; o pai não viera ao Pantanal porque estava doente. Ora, ora, o empresário brasileiro em questão tem cacife para expatriar um funcionário alemão e sua família e lhe pagar um bom salário em euros. Pura especulação de minha parte que creio piamente termos gente qualificada para este trabalho. Ou não temos?

     Sei que poderia ainda ir ao Pantanal por mais vezes e voltaria sempre em estado de graça. Os ruidos não naturais, os hábitos que nos deixam enclausurados, sem o sol, a poluição do ar, tudo isso nos torna mal - humorados, alguns até doentes.

     Uma semana imersa no universo pantaneiro só me privou da alegria maior que era estar com meus pequeninos netos, Guilherme e Giovana já que os Felipe e Gabriel permanecem para além do mar, do outro lado do mundo.

sábado, 22 de junho de 2013

Profetas

     Já ouvira desde muito tempo que nenhum profeta é bem aceito em sua casa. Mesmo em sua Nação. E, malgrado comentários maldosos ou jocosos de algum filho ou amigo, teimamos, eu e alguns mais antenados, em profetizar o que vemos no mundo e agora no Brasil. Não profetizamos como profetizaram os iluminados bíblicos. Simplesmente, anotamos, lemos e relemos muitas análises de formadores de opinião, gente de profundo conhecimento e vasta experiência. Pelo menos, desde 2008, na crise dos Estados Unidos e em 2010, na Espanha - sem contar a Grécia  e outros insatisfeitos, porém com diferentes causas - eu dizia que a " Descoberta do Brasil" pelo Primeiro Mundo ( muitos investimentos, muita gente querendo conhecer ou trabalhar aqui ) seria algo passageiro como o brilho de um relâmpago; que o crescimento do Brasil, a ascenção econômica de uma classe mais sofrida, talvez lá na frente, todos sofreríamos uma queda fabulosa e, quanto mais alto estivéssemos, pior seria o tombo.
     Pois que agora, como um renascer de Fênix, a América do Norte se levanta, o dólar se fortalece e nossa dívida externa sobe, como o mercúrio em termômetro de paciente, com mais de quarenta graus de febre. Sem falar em nossa dívida interna. Então, os que financiaram suas casas e carros e outros bens a juros muito baixos, verão ruir tudo como se seus sonhos fossem levados por tsunamis infames. Não desejo isso; seria eu muito maldosa. Contudo, é uma hipótese.

     Ao ver as manifestações dos estadounidenses e espanhóis por suas perdas, cantei uma pedra indesejável, em meu bingo restrito:- também aqui veríamos a insatisfação. Não imaginei que logo se esquentasse tal gritaria e nós brasileiros, tão desencantados da vida pública, pudéssemos sair às ruas clamando por bens que nos foram prometidos e, gastando nosso suado dinheiro, nunca foram executados.

     Concordo plenamente que não se permitam bandeiras de nenhum partido, já que todos se fizeram de surdos às reclamações de corrupção e má destinação do dinheiro público. Isso não significa que queremos um governo ditatorial, sem partidos. Queremos uma bem feita Reforma Política e Reforma Tributária. O governo no Brasil tem seguido como uma ditadura disfarçada. Fingem que condenam, mas ninguém vai preso, fingem que criam boas universidades, fingem que cuidam da saúde. E seguem fazendo  o que querem sem darem atenção a ninguém. E vemos que não há partidos de oposição. Nem um! Mesmo um que parecia oposição, se viu envolvido em esquema de corrupção. Faz muitos anos que eu voto " nulo"; se todos déssemos este recado, de que votamos "nulo" porque nenhum dos candidatos nos é suficiente para representar, quem sabe assim, teríamos novos candidatos com passado e presente limpos. Mas o que ouço, muitas vezes, é que as pessoas pensam que são obrigadas a votar em alguém, mesmo se esta pessoa não for adequada. Pode ser que, neste tempo de passeatas, abram-se muitos olhos e ouvidos e teremos uma eleição mais limpa, com representantes mais decentes, honestos.

     Também brinquei, por muitos anos que, em dado momento de nossa História, fariam a " Recuperação da Informação" como acontece no livro "1984" do inglês  Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell: tomam seus dados pessoais e os reescrevem de modo diferente, para que todos pareçam pensar de modo igual ao do governante oligárquico. Tenho o filme e assisti a ele por mais de duas vezes, já o tendo visto no cinema. O autor me cativou desde o primeiro momento. Ele, sim, foi um visionário. Eu apenas brinco e tento ver em nossos dias o que ele já via no pós- guerra. Por isso, quando em Ubatuba a passeio, no dia doze deste junho, vibrei com a manchete sobre Snowden - é isso mesmo? - o garoto - prodígio que deixou todos os grandes de queixos caídos ao denunciar a invasão de privacidade que o governo dos E. U. e, agora também da Inglaterra, fazem de maneira ampla e arrogante. O que pude ver é que muitos abrem mão de sua liberdade pelo temor exagerado de terrorismo. Com isso, acham ótimo que se " vejam " tudo o que  fazem ou pensam. Como nesses programas populares, o " Big Brother ", quando muitos gastam tempo e dinheiro só para espiar a intimidade alheia. Uma pobreza!

     Já vou "profetizando" que, em futuro não muito distante, estaremos todos devidamente catalogados, aceitando pacificamente que nos monitorem até os pensamentos. E o livre- pensar será só pensar - como dizia Millôr Fernandes.
Pobre daquele cujo nome for confundido com o de um " suspeito de terrorismo". Só ser suspeito já é correr risco de morte.

     Ainda bem que minhas profecias são apenas o óbvio; não são profecias; talvez sejam pesadelos literários que memorizo ou observação de quem preserva a paz e as flores.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Boas Escolhas

     A cada dia e hora, devemos fazer nossas escolhas. Há opções que nem são escolhas do momento, mas que, em algum dia, escolhemos seguir. E as tarefas são apenas etapas de um caminho, de uma profissão, que nos absorve. Se gostamos desta escolha, ótimo.

     Eu caminhava como de costume, ao redor do Lago do Círculo Militar de Campinas, quando percebi uma movimentação diferente: aquelas crianças e jovens, vestidos com seus belos uniformes, em tons de azul e cinza e com um lenço colorido no pescoço, treinavam a prática do remo. Havia alguns botes ou canoas e os menores remavam, sob os cuidados dos maiores. Para limitar o acesso ao espaço mais fundo do lago, os "Lobinhos" e os "Escoteiros" amarraram uma corda no sentido Leste - Oeste. Observei a disciplina, o falar educado, nada de gritaria nem de euforia exagerada que chamasse atenção para todo o grupo que era de muitos.
     Segui em frente e percebi que outros se ocupavam em diferentes tarefas. Algumas lindas jovens recolhiam algum tipo de vegetação mais adiante. Aproximei-me e conversamos. As moças tinham, uma quinze anos, outra dezenove. E fazia já cinco e sete anos, respectivamente, que praticavam o escotismo. Achei surpreendente! Apesar de eu frequentar o clube desde muitos anos, nunca os tinha observado tão ativos e envolvidos com a escolha que tinham feito. Escolha exigente apesar de terem que cumprir outras escolhas, naturalmente feitas pelos pais, como os estudos que levam a sério.

     Isso foi numa sexta-feira de semana com feriado na quinta. E os garotos que encontrei estavam muito felizes - um de treze anos, outro de onze - que não só montaram as barracas  mas já tinham dormido ali:- " estamos acampando aqui, nos quatro dias e vamos ficar até domingo". Era bom ver que estavam orgulhosos de terem escolhido viver esta aventura, em segurança. Ali tinham uma boa mata, o lago para remar e pescar e o espaço para o campismo. Recolhiam uns gravetos que suponho para algum fogo noturno; não voltei lá para conferir. Contudo, contagiei meu neto com tamanho entusiasmo com que me preenchi.

     Ainda hoje, assisti a um documentário sobre o Sistema Nacional de Orquestras Infantis e Juvenis, da Venezuela. Mostrava a vida de Gustavo Dudamel, exemplo de jovem que abraçou a música com paixão e levou a realização deste sonho a milhares de crianças, mundo afora. Iniciado pelo músico venezuelano, José Antonio Abreu, este " Sistema" visava retirar as crianças da rua e do contato com as drogas. Deu certo. As crianças, muito pequenas, falam com entusiasmo dos instrumentos que elegeram e de como a música as embala e as eleva; umas dizem que sentem paz, outras que parecem voar! Belo exemplo para nós - se já não o fazemos, está na hora . Pode ser que encontremos muitos talentos que se perderiam nas drogas, pelas ruas do Brasil.

     Ademais, arte e educação se completam. Coloquemos música na vida de nossas crianças; certamente serão adultos mais sensíveis e menos agressivos. E que experimentem o escotismo também. Pois uma coisa não exclui a outra.
     É preciso dar a elas um leque de opções que equilibrem as matérias mais valorizadas nas escolas e que de fato determinam o proficionalismo futuro: as ciências exatas, as humanas e os idiomas. Estas são obrigatórias e tornam, muitas vezes, o ensino árido e cansativo.

     Tenho duas meninas que iniciaram seus estudos na música, seguiram por outros caminhos muito eficientes; poderiam voltar ao antigo amor, ao menos para acalmar seus dias ou como instrumento de inspiração para seus filhotes. Vai que surge dali um " Dudamel"!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Feliz Páscoa

     Quase todo o mundo sabe o significado da palavra " Páscoa". Não fui pesquisar o que poderia significar em uma longínqua ilha do Pacífico ou em algum fundão de mato, onde não houvesse aparecido um apóstolo de Cristo ou um rabino hebreu. Todos os que conheço, enquanto no tempo, sabem da história do povo hebreu que foi escravo no Egito, durante anos e foi liberto pelo poder de Deus. Naquele tempo, aconteceu a fantástica Passagem da escravidão para a liberdade. Para que não morressem na terrível noite, em que o Anjo ceifaria o primogênito de cada família, foi-lhes ordenado que marcassem os umbrais de suas portas com o sangue de um cordeiro imolado, cuja carne deveriam comer, cingidos e calçados, prontos para partir...
     Muito tempo depois, a humanidade escrava de si mesma, de sua porção mais animal, de seus vícios; acorrentada no individualismo, aprisionada pelo orgulho e vaidade, foi libertada pelo Sangue do Cordeiro de Deus - Jesus Cristo. Assim também, os umbrais de nossas vidas devem ostentar a marca que nos garante Vida. Vida livre e plena. A marca de Jesus: o Amor.
     Há adultos que esperam a Páscoa como meus netos de quatro e cinco anos, os quais, apesar de alguma noção espiritual, anseiam pelo coelho que lhes trará ovos de chocolate! Pobres  criaturas que  arrastam ainda suas correntes de egoísmo, vida acima, vida abaixo; pessoas presas ao rancor; gente gemendo sob o chicote da ignorância e do temor.
     Que eu possa sair mais solta de tudo o que me prende e que Deus faça novas todas as coisas boas que envelheci. Que, no acordar da Páscoa, eu possa seguir mais de perto o Ressuscitado, levando esperança a um mundo convulsionado, que se acredita livre mas jaz na escravidão do materialismo.
      Feliz vida- nova - livre! Feliz Páscoa!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Homenagem à Mulher

Mulher Vencedora

Se você o tem,
Escute o lamento do desejo enjaulado,
Como o uivo do coiote, em noite de lua...
Porque a Mulher Vencedora,
Não é tola nem atocha seus dias
Com sofrimentos vãos.
Não aponta o dedo a si mesma
À procura de defeitos incorrigíveis
Nem se fecha num porão inatingível,
Pra dizer que ninguém a encontrou.
Na vitória, alegra-se às alturas
A mulher Vencedora.
Na derrota, não sucumbe aos infernos...
Dirige sua energia ao projeto próprio,
Sem descuidar-se do necessitado.
Não teme a solidão nem a crítica.
Cria e desvenda sonhos
E batalha por eles.
Deseja mais a vida que vem do conflito
Que o manjar cedido em troca de favores.
A Mulher Vencedora,
Altiva e forte está muito perto.
Pois a Mulher Vencedora
Vive dentro de você!

domingo, 3 de março de 2013

Gira mundo, mundo gira

     Gira mundo, gira giramundo, mundo gira...
     Esta é apenas uma forma que arranjo para explicar como a vida não para; como o tempo se sucede sem intervalos, inspirando e expirando como um organismo vivo.
     Desde os anos noventa, quando estudei um pouco sobre a Filosofia do Tempo, em diferentes épocas, me apaixonei, me deixei seduzir por um estado de espírito que envolve o ser humano, na sua jornada temporal. Somos prensados entre o nascer e a derradeira hora. Sem estresse nem ansiedade, deveríamos valorizar este tempo relativo, limitado, exíguo até. Há quem não valorize seu Tempo de Existir. Há quem não gaste tempo contemplando uma flor, uma borboleta, um pássaro ou uma cachoeira, só para mencionar alguns aspectos da Natureza. E os admiráveis gestos de amor, mesmo as tristezas nascidas do rancor...O mistério da vida no Tempo me fascina. O Tempo é o que temos. O resto é especulação.
     Com a criancinha de dois meses em meu colo, iniciei um diálogo:-" Giovana, minha criança, Deus tem sido generoso comigo. Deu - me anos de saúde, tempo largo, robusto e fértil. Giovana, querida, como você, agora, eu tive outros bebês em meu colo; um mais clarinho e duas moreninhas. Você me lembra minhas meninas..."
     Giovana sorria e fazia caras e bocas enquanto eu lhe falava de meu tempo de ter bebês no colo.
     O Tempo passara depressa ou seria eu que me apressara através dele?
     E continuei dizendo a ela que uma menina estava agora vivendo seu tempo de estar longe do colo, em Madri e outra menina arrumava suas malas para ter mais um tempo do outro lado do mar. Giovana parecia entender o que eu lhe dizia ao franzir a testa, depois ao esticá-la e voltar a frazí-la. Sorria condescendente, como a dizer-me: "vovó, o Tempo a Deus pertence, quem sabe quando será o tempo de eu passar um tempo longe do colo? Aproveite, pois, este Tempo de me ter em suas mãos".
Sábia criança!
     Neste exato momento, a minha criança está voando através das nuvens e, em poucas horas descerá em Paris, onde terá mais um Tempo de experiência fora do colo. Certamente, dentro da saudade, das orações e do silêncio. 
     Tenho que monitorar meu tempo, sem lamúria só com ternura para os que estão no meu tempo físico. Tempo dos filhos e dos netos, sobretudo dos pequenos Gui e Gio.
      E sei que o tempo seguirá seu trajeto, pelo mundo. Gira então mundo, gira.Gira, Giramundo!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Atitudes

     No dia 12 deste fevereiro, fiquei surpresa com a atitude do papa Bento XVI, quanto à renúncia de seu pontificado. Surpresa é um termo pouco adequado, ponderando hoje. Ouvi muitos jornalistas e cientistas políticos tentando decifrar a " esfinge". Ora, se nem estes foram convincentes ou logicamente não tem respostas para esse acontecimento histórico e novo, muito menos eu. Como disse, fiquei mais que surpresa; fiquei indignada. Não que este importante líder religioso, na altura de seus muitos e penosos anos não pudesse dar um "basta", " cansei". O que me irritou - posso ser uma terrível criatura - é que a Igreja me parece incoerente: seu antecessor,  idoso, doente, fragilizado, mal se arrastava e balbuciava umas palavras ininteligíveis. Este teve que ficar ali até os últimos instantes. Dava- me a impressão de que já estava morto e o sustentavam meio encoberto, para abençoar aqueles que o queriam vivo mesmo que agonizando em praça pública, como foi dito sobre Cazuza. Já não podia falar e foi um descanso para ele e para mim quando o declararam " vendo a face de Deus"!
     Este, apesar de idoso, está lúcido, sem doença limitante. O papa cansou-se. Cansou-se de escândalos de diferentes formatos, uns piores que os outros. Cansou-se Sua Santidade das fofocas palacianas, da busca de poder, da disputa entre, no mínimo dois grupos divergentes. Eu, como muitos queremos palpitar, queremos descobrir o como e o porquê conseguiram minar as energias do sacerdote. Porque a mesma Igreja nos ensina - eu sou cristã - pelas palavras de Jesus Cristo:" quem quiser ser meu discípulo, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz- de- cada-dia, venha e siga-me"
Pode ser que renunciar à sua vida, para Bento XVI seja ele parar de ser o " manda-chuva" daquilo em que se deva crer. Ou seja: agora, não mais poderá dizer que uma atitude não combina com um cristão. Apesar de não termos hoje um tribunal inquisitório. Se ele não fosse um servo de Deus, ou um representante de Cristo, na Terra; se ele não fosse escolhido pelo Espírito Santo eu até entenderia. Mas ele se opor a quem o colocou lá, isso é-me difícil de aceitar. Contudo, orarei por ele.
     A renúncia de Bento XVI inspirou minha amiga, já cansada em um casamento difícil, desgastado por um marido adúltero, indiferente e de personalidade complicada. Ela segurou seu casamento por mais de trinta anos. Disse-me com segurança:" O papa renunciou, está cansado, sente que não tem mais argumentos para levar sua tarefa adiante. Eu também cansei. Vou cair fora sem remorços, sem culpa".
     O papa se cansou de um cargo; continua sacerdote para sempre.
     Atitudes são resoluções pessoais. De fato, é melhor tomar a atitude de cair fora que somatizar doenças. E o papa deve dar graças a Deus, pois se não houvesse um Estado, com toda a parafernália que o envolve, ele seria tão somente um sábio líder religioso.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Pacto de Confiança




     Se à minha esquerda
     Há uma batalha cerrada,
     Outra à direita sugere minha perda.
     Não ficarei assustada.

     Ele me repete fala antiga:
     Se com Ele fiz um pacto,
     Manda - me legião amiga.
     Isso acontece de fato!

     Acolhe - me porque chamo
     Com poder Seu Nome.
     E com total entrega O amo.

     É um amor que me consome;
     Um fogo de luz mais que humano.
     E dá - me do Eterno mais fome!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Boas Notícias

     Gosto muito de uma melodia que diz que o amor está no ar - " Love ( is ) IN THE AIR "- é uma música dançante, muito alegre. Não contemporânea, interpretada por Paul Young, esta melodia encontra eco em meu jeito de viver a vida e ver o mundo ao redor. Ao me acordar, antes do café- da- manhã, olho através da vidraça e sinto o amor de Deus, sua própria Presença, nas singelas flores de meu jardim. Saio do espaço - tempo, acompanhando a dança dos pássaros e das borboletas orquestrados por mãos angelicais. Sinto o amor, na boa notícia de que sou amada e amo; na convicção de que o sol, o céu azul, as núvens - como algodão - doce - até a chuva e dias amargos são presentes do Altíssimo. E, nas horas difíceis, o amor me abraça ou me aparece em forma de esperança, num cartão postal, num e-mail, um telefonema, no Skype até numa carta! Essa boa notícia por carta é rara nos dias atuais. Muitos vivem na correria - tem centenas de amigos virtuais, não desgrudam das redes sociais, mas sem tempo para um papinho cara - a - cara.
     O mundo, de modo geral e nossa nação, particularmente, carecem de paz e alegria. Agir em favor de valores éticos e morais é nosso dever, sem perder, contudo, a delicadeza. Precisamos usar a força do Direito e não o direito da força. Ouvi muito isso, durante a minha infância. Ignoro o autor dessa boa notícia. Se não quisermos verbalizar nosso amor, podemos sorrir, olhar dentro dos olhos, abraçar, sussurrar. Se desacelerarmos nosso dia, passaremos um pouco de calma ao derredor. Uma boa melodia é um recado e tanto; ela contamina para o bem, como carranca e agitação nos arrastam para o mal.
     Fiquei a pensar sobre isso ao ouvir e ler más notícias, num único dia: moça grávida falece após receber um tiro na cabeça; menina morre com bala perdida; mais uma funcionária recebe outro tiro na cabeça! Várias chacinas ocorrem na capital paulista e em outras cidades! Não são estas, notícias de jornais de terceira categoria. São as que lemos e ouvimos nos principais veículos de comunicação. Alienar - se, sair para escapes geradores de doenças não resolve. Precisamos espalhar amor por toda parte; precisamos urgentemente de boas notícias.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ritos de Passagem

     Na verdade, não fiz hoje nem por estes messes passados, nenhuma mudança em meu viver que justificasse algum rito marcante. Celebramos, é correto dizer, o nascimento de meu Senhor e Salvador, Jesus, o Cristo. Sinceramente, Jesus que me desculpe, seu aniversário está muito deturpado, avacalhado mesmo. É a festa da gastança e do estômago; o " amigo secreto" querendo aparecer com o melhor e mais caro presente e furioso de ter recebido algo que julga de inferior qualidade...
      Hoje, celebro meu aniversário de casamento. Sem festa, sem alarde, sem os filhos nem os netos. Contingências normais. Estamos saudáveis e felizes, isso é o que importa. Um cumprimento que nos chega do outro lado do mundo é mais que champagne e caviar; muito mais que violino e rosas vermelhas.
     Tenho ciência de que estamos prensados entre o nascer e a derradeira hora; estes são os dois ritos de passagem mais significativos do ser humano. Antes de nascer, com todos os preparativos médicos e de total envolvimento familiar, de posse do sexo da criaturinha começam a especular sobre o nome da criança. Logo após o nascimento, a criança é registrada com seu nome pomposo ou simples e seguem-se as incansáveis e obrigatórias visitas; trazem presentes e recebem lembrancinhas de gratidão. Depois, a cada ano, é um evento palaciano o ritual de passagem, com festa para familiares e amigos, envolvendo garçons, decoradores temáticos, uma parafernália que não existia há anos! Observo ainda certos ritos religiosos que uns seguem pela crença, outros para não se sentirem excluidos, como acentuou minha amiga de Fortaleza. Disse que batizaria a filha para que esta não fosse diferente das outras. Isso é como você comer papelão molhado porque a maioria o está comendo!
Os cristãos - católicos batizam seus filhos ainda bem novinhos; os evangélicos praticam o rito de mergulharem-se em rios ou lagos já adultos. São esses ritos que conferem a essas pessoas um carater transcendental. Ainda são levados a ritos mais envolventes, quando fazem promessas e renúncias de grande complexidade, mesmo não entendendo completamente sobre o que estão falando - afirmando ou negando. Assim também os judeus e os membros de outras religiões e seitas.
     Quanto ao sombrio rito de passagem para outro estado de ser - ou não ser, melhor dizendo - às vezes há longa preparação, se a pessoa arrasta vida afora uma doença crônica ou incurável. Durante este rito de passagem, muitos não se permitem o choro; fingem força, coragem ou fé. Não percebem que é terapêutico esvaziar nas lágrimas cansaço e frustração, tudo o que a partida do ente querido lhe impõe. Nos tempos longínquos, as pessoas pranteavam o morto durante seu velório e aqueles malvados, que não tinham quem lhes pranteassem, pagavam as tais carpideiras a gemer e clamar durante a noite inteira, quiçá arrancando seus próprios cabelos, enquanto o morto seguia em cortejo até o campo santo. Depois, as pessoas mais íntimas se vestiam de preto por um ano e, aos poucos, iam tirando o luto com roupas mais claras até voltarem ao estado normal. Vi ao menos duas viuvinhas namoradeiras em pleno luto, cujos vestidos pretos, muito decotados, deixavam à mostra os níveos colos convidativos. Nenhuma dor as assaltava, contudo, o ritual de passagem para esse novo status social exigia esse selo exterior.
     Os ritos de passagem não desaparecerão. Estão cada vez mais sofisticados. Festas de casamento - que duram por vezes apenas alguns meses - consomem cifras absurdas, incentivadas pela mídia, pelo gosto efêmero da fama ou de apenas ser notícia.
     Seja a dor, seja o amor; seja a fé ou uma iniciação qualquer, o rito de passagem poderia ser bem mais intenso se não se fizesse dele tanto alarde.