domingo, 12 de abril de 2015

Bárbara Heliodora

Como vimos e ouvimos em muitos veículos de comunicação, a escritora, crítica de arte e professora - talvez com outros títulos mais - Bárbara Heliodora falecera nestes recentes dias passados, aos 91 anos bem vividos. O destaque para sua eficiência nas profissões que escolhera fora do rigor na pesquisa exata, na profundidade e sinceridade de seus comentários ou avaliações, sobretudo como crítica de arte, derrubando alguns espetáculos e levantando uns poucos. Ouvi que muitos atores e diretores ficavam estressados com sua presença na plateia. Outros a observavam durante a apresentação tentando, de antemão, saber se ela tinha gostado ou não do espetáculo.

Enfim, levou consigo muitos elogios e suas obras e seus conhecimentos, sobretudo sua total admiração pelo grande W. Shakespeare.

Não conheci muitas Bárbaras na minha vida; apenas a filha de uma amiga e a nora de outra. Ambas muito bonitas. No entanto, o composto Bárbara Heliodora, só conheci esta senhora, nunca, porém, pessoalmente...Só que, ao saber de seu passamento, uma tristeza profunda abraçou minha emoção e logo percebi que tal sentimento era destinado à outra Bárbara Heliodora.

Refiro-me a Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, poetisa e amada esposa de Inácio José de Alvarenga Peixoto - um dos participantes da Inconfidência Mineira. Prefiro lembrá-la apenas como Bárbara Heliodora, mulher forte, de espírito artístico e grande incentivadora do marido e, inspiradora do movimento dos inconfidentes. Mãe de tres filhos, teve a maior dor pelo falecimento de uma filha e a tristeza de ver o esposo, Alvarenga Peixoto, preso e condenado ao degredo perpétuo em Angola, na África, onde faleceu.

Observando um retrato de Bárbara Heliodora, em óleo sobre tela, encontrado nos porões da antiga Fazenda Boa Vista, em São Gonçalo do Sapucaí - no Sul de Minas - vejo que era muito bonita, de feições delicadas e elegância no vestir. Sofreu ainda o que, segundo o escritor Alberto Carlos da Rocha - difamação da Corte para anular a escritura de venda de alguns imóveis que lhe teriam sobrado: ela foi declarada demente.

Continuou trabalhando na agricultura e mineração, nas cidades de Campanha e São Gonçalo do Sapucaí.  Sua produção literária foi muito reduzida. Lembrada pela poetisa Cecília Meireles, surge no poema " De Dona Bárbara Eliodora" que integra o seu Romanceiro da Inconfidência.

Nascida em 1759, na cidade mineira de São João del- Rei, faleceu em São Gonçalo do Sapucaí, em 1819, sendo enterrada na Igreja Matriz, desta cidade.

Duas grandes "Bárbara Heliodora"- dois destinos completamente diferentes. Apenas especulo se a mãe desta última Heliodora ( que disseram o Bábara ser apenas pseudônimo) - não pensara na Heroína da Inconfidência para lhe dar este nome tão forte.
Confesso que o desbotado de meus olhos cansados se lavaram em lágrimas de compaixão pela mãe e esposa, farta de injustiça, que veio a ser ferida de morte ao separar-se de seus queridos. Muito triste! Ainda não assimilei bem o drama desta família e daquelas  dos outros inconfidentes, ainda mais que celebraremos neste 21 próximo, a horrível  morte de Tiradentes. Temos muito para refletir!