sábado, 13 de julho de 2013

Pantanal II

     Falar de Pantanal talvez seja um tipo de refrão por demais cantado: " é chover no molhado". Hoje mesmo, vi parte de um documentário com aquela riqueza toda, da qual vi apenas uma pequena parte. Por isso, meu texto é um pequeno registro, num enfoque humilde - mesmo porque seria difícil postar muita coisa, dada a biodiversidade daquele paraíso.

     Desta vez, fizemos semelhantes passeios de barco pelo rio Miranda à procura de pássaros que habitam nas árvores de suas margens. Encontramos uma rica variedade da qual destaco os seguintes: cavalaria, joão pinto, caracará, arara - vermelha, arara - azul, arara - canindé, periquitos, mutum - de- penacho, garça-real, aracuã- do -pantanal e outros muitos. Caminhar logo de madrugada foi um trabalho para os fiéis fotógrafos dessas aves raras e encantadoras. Fui de acompanhante, mas a vida naquele lugar começa muito cedo e nos obriga a seguir aquele ritmo. Desliguei - me totalmente do mundo dito civilizado: nada de telefone, televisão nem Internet. Li um bocado, escrevi pouco, orei bastante e meditei o suficiente. Era formidável ter o silêncio interrompido exclusivamente pelo farfalhar de pios, gorgeios, chilreios ou trinados, todos desalinhados mas orquestrados por mãos divinas. O colorido de mil tons de verde, com manchas vermelhas, outras amarelas ou azuis eram o primeiro plano daquela paisagem dourada com fundo azul celeste. Uma delícia! Escrevi um poema desta força da natureza sobre nossa saúde. É formidável o sol para nos tirar da cama, da casa, do casulo; sair da melancolia - nossa herança portuguesa - sair de nós mesmos. Ir ao encontro da luz natural e daquela que emana das pessoas translúcidas. Repletos de energia, de alegria por nada e por tudo, cantamos sem dizer palavra e ouvimos a melodia silenciosa do vento na ramaria. Muito bom.

     Emoldurando tudo, uns papos - cabeça até muita conversa - jogada- fora com gente muito jovem, tal o irlandês e o alemão, como maduros tais os casais franceses e outros brasileiros. Isso era mais no refeitório, porque as moças estrangeiras ficavam só curtindo o "verão" de junho, de biquinis, na piscina. Para meu gosto, eu usava agasalho leve, nunca, porém, roupa de banho. Porque eu sentia frio mas elas precisavam ganhar uma corzinha naqueles poucos dias. De fato, eram demasiadamente brancas. Este era um grupo que chegou junto, apenas turistas de férias. Interessante o garoto alemão - não direi seu nome - de dezoito anos a dizer que faz estágio na empresa de Eike Batista, onde seu pai trabalha na construção de uma usina termoelétrica. Com ar de criança travessa, que está a fazer algo proibido, sentia-se importante porque desconhecia totalmente do trabalho de uma usina deste tipo. A família inteira veio da Alemanha; moram no Rio de Janeiro há seis meses. Disse-me que ele e o pai tiveram aulas de português, língua que julga muito difícil. Logo entendi porque a mãe nada falava mas me sorria admirada de o filho estar a tagarelar nesta língua que ninguém fala! E eu o escutava e respondia lentamente; às vezes também perguntava; o pai não viera ao Pantanal porque estava doente. Ora, ora, o empresário brasileiro em questão tem cacife para expatriar um funcionário alemão e sua família e lhe pagar um bom salário em euros. Pura especulação de minha parte que creio piamente termos gente qualificada para este trabalho. Ou não temos?

     Sei que poderia ainda ir ao Pantanal por mais vezes e voltaria sempre em estado de graça. Os ruidos não naturais, os hábitos que nos deixam enclausurados, sem o sol, a poluição do ar, tudo isso nos torna mal - humorados, alguns até doentes.

     Uma semana imersa no universo pantaneiro só me privou da alegria maior que era estar com meus pequeninos netos, Guilherme e Giovana já que os Felipe e Gabriel permanecem para além do mar, do outro lado do mundo.