quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Lamento da Natureza


Observo com curiosidade
a movimentação inquieta do meu jardim.
Se é como bem me lembro,
quando chegava setembro,
vinha com ele a primavera.
Era tempo de calmaria, do colorido de flores
e de chuvas cantantes refrescando
nossas tardes. O calorão só vinha no verão!
Agora, a natureza lamenta em coro:
Quero água! Quero água!
Céu azul,  manchado do branco das núvens,
iluminado sob o dourado do sol,
acolhe o bem -te - vi que abraça seu filhote
e chora a chuva que não veio.
Sobre o verde desbotado do abacateiro,
geme a corroíra em busca de alimento.
Aqui, a sabiá a lamentar o dia inteiro
que o vento já vem, sem argumento,
a levar a molhadeza, pras bandas do mar...
No canto do muro, a murta sem lágrimas,
engole um soluço e suspira por um banho!
O voo colorido do beija-flor tenta
abraçar o manacá e nova dança inventa
que lhe poupe energia e o alimente.
Mente quem diz que a natureza não pensa.
Pensa e sente como gente.
A natureza sabe que os rios
estão - se tornando riachos,
prenunciam córregos até trilhas de terra
socada e seca; enrugada  e craquelada.
Ouço nos pios dos pássaros
a prece de toda a natureza, que em coro
suplica: que venha a chuva, bom Deus!

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