terça-feira, 9 de agosto de 2016

Tempo de Crise

Lá estavam os dois homens a carpir. Os carpidores nem me viram chegar. Eu fora conferir a carpição, para que a semente fosse bem acolhida... O sol ia alto sem piedade da plantação, sem escurejar por trás de nuvem nem de morro ou serra, para aliviar a sede. Precisavam parar um pouco. Beber água fresca, almoçar... Em tempo de crise, precisam batalhar mais. Quando falei de crise, de falta de dinheiro, o mais trigueiro, fulminou-me com o verde dos seus olhos e vociferou vaticinante:- " Dona, nóis não tem crise, não; nóis vende nosso armoço pra pagá nossa janta." Calei-me. Se ao menos eu tivesse olhado dentro de seu bornal, eu constatara afinal a escandalosa ausência de sua matula. Imatura eu! Essa gente vive pela metade, semivida; sem vida até, tentando ter fé no amanhã, que o hoje já se foi!

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