segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Presépios

Vai chegando o Natal e logo vejo as fachadas de residências e lojas iluminadas com as pequenas lâmpadas coloridas. Nas praças públicas e nos centros comerciais, as árvores de Natal, sempre em pinheiros naturais ou artificiais, foram - se impondo e dominam, seduzem, encantam.

De repente, não muito de repente, comecei a refletir que que Árvore de Natal e Papai Noel são aquisições quase impostas, uma espécie de carimbo do Primeiro Mundo. E faz algum tempo que me tornei intolerante quanto a estes pinheiros artificiais, alguns ridiculamente revestidos de flocos de algodão, neste " país tropical, abençoado por Deus" - como se aqui nevasse! Questionava ainda, porque tinham sumido com os Presépios? De um momento para o outro, apenas algumas igrejas católicas fazem o Presépio. Mesmo que alguém argumentasse que tal manjedoura, aquele cenário rural, e a singela família só devessem aparecer a partir de 25 de dezembro, o que se constata é que o Natal despiu- se de piedade. Sua harmoniosa alegria ficou abafada pelas multidões à cata de um presente adequado para familiares e para o amigo secreto, nem muito secreto e, tomara seja amigo e não apenas um colega de trabalho...

Natal sem presépio não é Natal. Que festa é esta em que se enfeita a casa, prepara-se rico jantar, vestem-se de seda mas a Pessoa Central que daria sentido à celebração, fica de fora? Adultos não falam dele e as crianças, cada vez mais individualistas, só pensam nos presentes que vão ganhar. Nos Presentes; porque as crianças, em geral, não mais se satisfazem com um só presente. Muito triste isso.

Quando eu era criança - este quando já vai longe - logo no início de dezembro minha avó pedia ao meu tio para retirar um enorme caixote de madeira que vivia no porão. Este lugar era alto o bastante para uma pessoa de média estatura ficar em pé. O caixote tinha mais ou menos um metro cúbico e nossa ansiedade para retirarmos o que lá adormecia se revelava em gritinhos e um saltitar que quase aborrecia nosso tio.

Com cuidado, minha avó e sua empregada levantavam o caixote de um lado e meu tio do outro. Subiam a íngreme escada do quintal, como quem levasse um andor. Na sala de jantar, como acontecia em cada dezembro, o Presépio era montado sobre o " étagère ", nome este dado a um simples aparador ou sobre uma mesa, emprestada à cozinha. O móvel era recoberto por uma longa toalha que chegava ao chão. Eu e outros irmãos ou primos, íamos desembrulhando peça por peça, que estavam protegidas por lascas de serradura, aquele amontoado de fitas finas de madeira semelhantes à serpentina de carnaval. E arrumávamos um gramado e céu com o cometa, a luzir esperança.
As peças desse misterioso e precioso Presépio foram importadas da Itália e, não sendo novas, uma ou outra tinha arranhões, mesmo trincas e marcas de colagem. Eram peças grandes sabendo-se um Presépio doméstico. E lá ficavam os pastores e suas ovelhas, os animais do estábulo e a santa família, em Belém...

Minha avó recebia muitas visitas desde o início de dezembro até janeiro, quando então, colocava os tres reis do Oriente, com seus presentes para o Menino - Jesus. E a rua inteira, crianças e adultos deslumbravam-se diante daquela cena campestre que nos elevava aos céus!
Bons tempos: nada de árvores, nada de papai Noel. O brilho que ali brilhava era a luz das pessoas simples e puras que acreditavam que milagres acontecem.

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