segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Da Liberdade

Aprendi, desde muito criança, que somos seres livres. Temos, portanto, liberdade de escolha, livre arbítrio. Em tese, posso dispor de mim mesma. Aprendi também que essa liberdade sofre restrições quando eu limito o direito do outro.

Com todo o susto e muitos questionamentos, vi o ataque à revista "Charlie Hebdo"que, tristemente resultou em doze mortes, de seus principais caricaturistas. Reflito como pessoa comum, sem muito conhecimento sobre o conteúdo das charges que faziam. Ouço que eles se diziam ateus e no direito de blasfemar. Sim, quem em nada acredita pode zombar de tudo e de todos, à vontade. Também li que, pelo menos um líder islâmico, lhes dissera que tais zombarias poderiam causar ira aos fiéis seguidores de Maomé.

Hoje mesmo, li de um cronista da Folha de S. Paulo, que ter respeito por alguém não é coisa boa. E que não se deveria pôr um "mas" nas atitudes dos caricaturistas, ao se refletir se eles não exageraram em suas críticas ao modo de agir islâmico. Justificaram-se que o deboche costumeiro e contundente era endereçado também aos católicos e autoridades. Era o exercício da liberdade. Contudo, se estavam causando constrangimento e tristeza a outros, que os deixassem em paz.

Lembro-me ainda daqueles tais de " rolezinhos" que aconteceram em fins de 2013. Creio que não existem mais por força de alguma lei regularizadora. Não sou racista nem preconceituosa. Pessoas pobres e negras, bem ou mal - vestidas, podem e devem ir aos shoppings mesmo só para passear. Muitas vezes, tem dinheiro apenas para um sorvete de casquinha, do mais barato. E sabemos que tudo naqueles lugares é muito caro. No Brasil tudo é caro! Não são apenas os pobres que gostam de passear em grandes centros comerciais. Ali há maior segurança - neste Brasil, onde a cada dia se ouve mais de assaltos e mortes, por um quase nada - e o ambiente é mais fresco, neste verão incandescente.
Só que não vejo desculpa para duzentos jovens ( algumas vezes até muito mais) entrarem em alvoroço, todos juntos cantando música funk de ostentação (imagine o que é isso) - andando até correndo naqueles corredores estreitos; subindo e descendo escadas, fixas e rolantes, por onde andavam senhoras idosas, mães com crianças...No mínimo faltava bom senso. As pessoas que ali estavam, para comprar ou apenas estar não eram nem são culpadas por aqueles jovens de periferia se sentirem excluidos, fechados em sua miséria material, emocional e espiritual. Quem não rejeitaria este bando desgovernado que queria apenas "zoar, ficar e beijar?" Tirar a paz dos outros, assustar?

Então, muitos escreveram que eles eram uns coitadinhos, inocentes, uns amores maltratados. E a lei veio pôr ordem no comportamento da criançada: poderiam vir, não em bandos, gritando frases, correndo. Os menores de dezoito anos, deveriam chegar acompanhados de adultos. Isso é disciplinar, educar, palavras que muitos não querem ouvir porque isso é sinônimo de muito trabalho. Uma jovem disse que era tempo de  férias e ela nada tinha a fazer. Ficava, então, o dia inteiro  convocando os amigos pelas redes sociais. Ora, se esta "criança" tivesse a obrigação de cuidar ao menos das próprias roupas, não lhe sobraria muito tempo. Devemos ocupar bem o tempo de nossos filhos, desde bem pequenos. Sempre em esportes ou tarefas escolares e domésticas e menos redes sociais e Ipad e similares.

Estamos vendo e ainda veremos os desdobramentos deste ataque terrorista, em Paris. Estados Unidos, Inglaterra e o Vaticano ( quem diria!) já se puseram em  alerta de segurança máxima. Que isso não caminhe, em nome da Liberdade - para aos poucos irem tirando a nossa liberdade. Com a ideia de que vão -me proteger, já tenho mil olhos a me vigiar. Assim, vamo-nos acostumando com policiais por todo lado, pois o mundo não é mais um lugar seguro e o ser humano já não sabe conviver.

É preciso gravar que, se quero paz, devo ser promotora dela. Não devo fazer ao outro o que não gostaria que me fosse feito. Minha liberdade termina onde começa o direito alheio.

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