sábado, 2 de janeiro de 2016

Questão de Consciência e Compaixão

Temos ouvido o tempo todo sobre intolerância religiosa, preconceitos de todo tipo e um mundo atordoado em plena agitação e temor de guerra, no ar que respiramos.
Muitos de nós já vivemos meio a deboches e seguimos em frente, sem baixa estima, sobretudo os que fomos bem educados e valorizados pelos nossos pais e familiares. Há uns com inteligência parca comparados com outros mais inteligentes; há muitos bonitos - homens, mulheres e crianças - que se exibem diante da irmã feia ou do irmão com alguma deficiência. Sem pudor, cometem gafes e faz piadas idiotas. Alguns exemplos me vem à memória: a excelente cantora e atriz Barbra Streisand - estrábica e com nariz inadequado a seu rosto, teve algumas sugestões para fazer cirurgia plástica e torna-lo mais aceitável a seu fotógrafo. Nunca se deixou levar por estes comentários maldosos; seguiu em frente com sua maravilhosa voz e ganhando muitos prêmios tanto na música quanto pelos filmes. Outro, o cantor Juca Chaves encarou ele mesmo o avantajado nariz que mereceu uma modinha, cantada e aplaudida em todos os seus shows. Uns tem olhos muito espaçados e grandes, outras os tem muito apertados, como Carla Bruni. Vemos os atores, o francês " beiçudo"  P. Belmondo e norte- americano J. Malkoviche, estrábico, nem de longe um modelo de beleza. Mas seduz pelo seu enorme talento. Estes são apenas alguns de muitos exemplos a serem seguidos. Quando falarem de nossos supostos  ou reais defeitos físicos e comportamentais, desarmamos o agressor levando na brincadeira. Você pode apenas sorrir ou perguntar se ele está com inveja?
Ou nós rirmos de nossos pontos fracos: se sou muito alta, ou muito baixa ou acima do peso...Se eu mesma aceito e brinco com o que seria zombado, tiro o argumento do outro que se sentirá vazio.
Neste último mês, estive em uma clínica de oncologia e o que vi sobre aparência e carências muitas das pessoas que ali frequentam, tocou-me profundamente. Ao meu lado, uma senhora totalmente calva, optara por não esconder sua falta de cabelos. A maioria está calva ou com cabelos bem ralos. Mas são muito criativas: a moça de frente, muito bem maquiada, prendeu o estampado de seu lenço num feitio de trança que ficou muito bonito; outra, usava um gorro colorido. A um canto, um idoso descansa ou sucumbe com a cabeça apoiada entre as mãos. Outro segue a se arrastar, muito frágil, sustentado por uma jovem, talvez uma filha. Sempre vejo uma senhorinha idosa, que se veste de chita e calça chinelos. Chega constrangida como se estivesse a transgredir. Vai ao balcão, marca presença e arruma um assento. Seu chapéu é de palha, mas não tem o estilo bonito daqueles de praia, próprios para senhoras. É um chapéu masculino, porém, ela carrega seu desânimo com dignidade, cabeça erguida, sob o amarelado do chapéu velho. É uma figura exótica, mas sua preocupação é a cura; isso é tolice. Vi também o jovem de perna amputada com ares de aceitação; câncer nos ossos, certamente.
Nestes dias em que ali estive, recebi ensinamento para o resto da vida. Foi como se um enorme sino de bronze caísse sobre minha mente e despertasse minha consciência sonolenta, não mais adormecida. Pois creio que estas pessoas, jovens ou velhas, jamais olharão os seus semelhantes comparando a cor da pele; os cabelos lisos, ondulados ou crespos, seus olhos, orelhas nem outros detalhes. Precisamos ser gratos a Deus se temos saúde completa. E os que ainda vivem presos na arena do preconceito e da ignorância deveriam dar uma passadinha semanal numa dessas clínicas. Quem sabe um sino de bom senso, no peso de enorme sino de bronze caia também sobre suas mentes e encontrem coisas mais úteis para falar e comecem a praticar a compaixão.

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